Anorexia 3

Anorexia 3

Depois de assistir por algum tempo às reuniões de DASA comecei a ouvir falar de uma reunião temática para “anoréxicos”. No princípio eu não quis saber de ir, embora eu soubesse que me ajudaria. Eu pensei que não precisava pois me achava uma pessoa normal. Mas, quando finalmente fui para a reunião, eu imediatamente me senti em casa; e a primeira vez em que eu disse: “Meu nome é Elaine e eu sou uma dependente de amor e sexo e anoréxica” meus olhos se encheram de lágrimas.

Naquele momento, percebi que isto era algo que eu estava sempre fazendo comigo, assim como um anoréxico faz com a comida. Eu estava num banquete, mas, passando fome. Não era verdadeira a desculpa de estar só devido ao fato de não conhecer o homem certo. A verdade, é que eu era uma anoréxica sexual, não porque eu não gostava de sexo, mas porque eu nunca havia experimentado uma saudável vida sexual e amorosa.

Assim, o primeiro padrão de comportamento que eu identifiquei e que necessitava imediatamente me abster era o “comportamento de caça”. Eu tive que parar de”caçar o Sr. Homem Certo”; ver os homens como seres humanos e não como potenciais parceiros e começar a ser somente eu mesma.

De modo muito interessante, quando eu deixei de caçar, comecei a conhecer homens em todos lugares em que eu freqüentava. Eu aprendi a dar um tempo. Antigamente eu tinha muita pressa de evitar de me sentir abandonada ou de evitar o desconforto de uma possível interação íntima com qualquer tipo de relacionamento social. Comecei primeiramente aprendendo a colocar as pessoas importantes em minha vida e a colocar as atividades adiante. Isto significou fazer coisas tal como agendar uma data para ver as pessoas em minha agenda, não esperando somente por uma chance de encontrá-las ou de ser convidada.

Eu aprendi a me aceitar como uma pessoa única. Comprar uma cama de solteiro, foi para mim, um sinal de recuperação. Embora meu quarto fosse todo abarrotado de coisas, eu tinha uma cama de casal porque eu precisaria dela, mais dia menos dia, para compartilhar com o”Sr. Homem Certo”. Eu nunca me mudei para morar definitivamente em determinado lugar pela mesma razão: Qualquer dia eu estaria montando minha casa com o “Sr. Homem Certo”, assim, por que desperdiçar tempo e dinheiro decorando ou comprando mobílias agradáveis?

Eu aprendi como agendar e gostar de sair com homens com os quais não fizessem parte dos meus padrões dependentes. Depois de sair durante algum tempo, eu conheci um homem numa festa. Eu comecei a deixar de ir para as reuniões. Sete meses depois nós estávamos casados. Eu estava em negação com relação aos meus medos de intimidade, de compromisso e de compartilhar. Mas o amor conquistaria tudo! Romances repentinos, necessariamente não significam um sinal de falta de recuperação, mas em meu caso significava. O casamento se quebrou depois de dois anos e eu regressei para o DASA e para as reuniões de anorexia. O que aconteceu? Eu aprendi que eu era uma dependente de romance.

Esta é uma doença muito traiçoeira e preciso freqüentar assiduamente as reuniões para me ajudar a me manter longe da negação sobre as coisas que eu faço para rejeitar uma genuína intimidade. O que estou fazendo hoje para repelir as pessoas? O que posso fazer hoje para aumentar minha intimidade? Eu tenho uma tendência para deixar as coisas sempre para a última hora, assim eu não tenho tempo para mim mesma ou para qualquer outra pessoa. Eu preciso aprender a estipular um determinado período de tempo para estar só e outro para estar com as outras pessoas. Apadrinhamento e telefonemas são duas ótimas ferramentas disponíveis para combater a anorexia, porque elas são pessoas esclarecidas. Gosto de uma expressão do DASA: este é um programa de um dia de cada vez.

Eu ouvi falar pela primeira vez em reuniões de DASA para anoréxicos em 1985, depois de estar assistindo regularmente reuniões de DASA durante alguns meses. Eu estava freqüentando os Comedores Compulsivos Anônimos (CCA) desde 1978. Quando eu decidi ir para reuniões de DASA primeiramente eu pensei comigo mesmo: “Eu posso não ser dependente de amor e sexo, mas eu não sei o até a onde eu posso chegar.” Eu não me considerava promíscua, assim, tive medo de que eu não me identificaria com a programação. Mas eu estava desesperadamente precisando de ajuda. Eu estava repetindo regularmente um padrão emocional devastador de iniciar relacionamentos apaixonados, me envolvendo sexualmente, para depois de um curto período de tempo, me sentir extremamente deprimida pelo fato da relação não dar certo.

Eu era como um barco emocional à deriva hà aproximadamente dez anos. Eu não tinha uma relação estável e duradoura desde 1981. Depois dos últimos episódios de insatisfação, eu me peguei pensando:”Se é isto que significa viver, então eu não o quero.” Alguma coisa estava realmente errada. Eu estava trabalhando durante sete anos os Doze Passos de Comedores Compulsivos Anônimos e eu não estava vivenciando as promessas de recuperação e de serenidade.

Ser uma comedora compulsiva e ser uma dependente de amor e sexo eram formas entrelaçadas de amor anoréxico em minha história. Eu recorria à comida e comia demais em vez de recorrer às pessoas. Eu me sentia envergonhada com o meu corpo e mesmo assim, eu continuava a comer demais. A vergonha era uma parede entre eu e as outras pessoas, um segredo que eu não queria que ninguém descobrisse. Quando eu alcancei a puberdade e comecei a me interessar pelos meninos e o sexo, eu não queria conhecer ninguém e me sentia envergonhada. Eu não queria ser considerada como uma menina louca. Eu era uma criança levada e não queria participar de atividades e usar roupas infantis. Por outro lado eu me sentia inferior às outras meninas que tinham namorados. Eu não me inscrevi em escola superior ou em faculdade, não porque não quisesse; eu não tinha a menor idéia de como fazê-lo. Eu pensava que as outras meninas tinham algo ou sabiam algo que eu não sabia. Era como se algo mágico estava para acontecer comigo, mas eu não sabia o que era. Depois de estar freqüentando o CCA durante alguns anos a coisa mágica aconteceu: e eu soube que eu teria um homem em minha vida. Eu ainda não estou segura de que foi isso que aconteceu, mas eu acredito que tem a ver com o fato de estar menos temerosa de mim mesma, minha sexualidade e minhas relações com os homens. Eu me sentia mais confortável e confiante.

Meu primeiro namorado foi um homem que conheci em CCA quando eu estava com 28 anos. Nossa relação durou um ano. Eu havia sido atraída por muitos homens antes dele, todos homens que eram de uma maneira ou de outra indisponíveis: casados, que estavam se relacionando, viciados, alcoólatras, viajantes ou que não se interessavam por mim, etc. Eu havia me relacionado sexualmente com muitos deles mas nunca tinha tido uma relação duradoura. A primeira relação a longo prazo foi extremamente problemática, mas eu aprendi algumas coisas importantes sobre mim mesma e os relacionamentos: Eu poderia expressar minha raiva em uma relação íntima e poderia desfrutar do sexo. Estava faltando para mim, descobrir que eu não era sexualmente inadequada. Há pouco tempo, eu não mantinha relações sexuais e o desejava muito para me tornar confiante. Depois que aquela relação terminou, levou oito anos até a minha próxima relação de longo prazo. Durante aquele período a insatisfação emocional continuou até que eu comecei a freqüentar as reuniões de DASA.

Minhas atitudes com relação ao sexo, intimidade, relacionamento e amizade estão melhorando lentamente. Embora não durasse o meu casamento e seu fim estava sendo muito doloroso há vários anos, eu me alegrava por ter a experiência de ser uma esposa e mãe.

Eu estou agora numa relação que já dura um ano e meio. Agora eu consigo ter mais intimidade em meu relacionamento do que no meu primeiro relacionamento. Assim, eu posso sentir como estou progredindo lentamente, permitindo ter intimidade em minha vida. Quando eu uso a palavra intimidade, estou falando sobre honestidade. Nós falamos sobre coisas que são difíceis de se falar. Quando eu penso a respeito de algo que eu quero discutir com meu companheiro e sinto medo, eu sei que é a coisa mais importante que preciso falar e eu faço questão de falar sobre isto. Eu lhe conto o que estou sentindo, sobre significantes realizações com relação ao nosso relacionamento e sobre minha vida. Eu fico disponível para escutá-lo. Eu estou aberta para aprender sobre ele, sobre o que ele gosta e repugna.

No passado eu podia ter intimidade emocional ou sexo, mas eu não podia ter ambos. Minha meta é reunir intimidade e sexualidade dentro de uma relação comprometida, com uma relação que crescente em intimidade.

E.